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THE SKIN GAME

Dermocosmética, reviews, aconselhamento

Ingredientes cosméticos que não devem ser combinados e mitos

Estamos numa fase em que toda a dermocosmética envolve nomes de ingredientes e requer um conhecimento quase científico devido ao número de ingredientes de que se fala. Um outro problema é que subitamente toda a gente achou que agora é cientista e percebe imenso de químjica e começaram a multiplicar-se desinformações pela internet fora. Uma questão que surge frequentemente é "quais os ingredientes que não devem ser misturados?" e hoje vamos ver alguns mitos e alguns ingredientes que realmente não se dão bem juntos. Se precisarem de alguma ajuda com os ingredientes, por favor dêem uma espreitadela ao glossário de ingredientes do blogue.

 

Niacinamida e Vitamina C

Existem dois problemas teóricos com esta combinação: o primeiro é que eles podem formar um complexo e anular-se mutuamente, o segundo é que podem causar flushing (vermelhidão temporária). Quanto ao complexo formado entre as duas moléculas, este pode ocorrer, mas é facilmente reversível, não sendo portanto um problema (as duas moléculas juntam-se e separam-se sem ficar ligadas para sempre, especialmente nas camadas mais profundas que é onde interessa que exista acção de ambas as moléculas) e nunca acontecerá que todas as moléculas formem complexos ao mesmo tempo. Quanto ao flushing, este é causado por niacina, uma molécula que surge da conversão da niacinamida em meio ácido. Contudo, esta reacção de conversão demora tempo, o que significa que não deverá ser significativa quando se usam as duas moléculas ao mesmo tempo - poderá apenas ser agravado se a pele for logo exposta a radiação UV.

 

AHA, Vitamina C e Retinol

Estes três ingredientes/grupos de ingredientes são provavelmente dos mais famosos (nos AHA em particular o ácido glicólico). A utilização de combinações simultâneas destes três pode resultar em hiperreactividade da pele, sobre-exfoliação e aumento dapropensão a manchas (especialmente se não for usado um bom protector solar quando se fazem tratamentos com retinol ou AHA). Contudo, esta questão não significa que os três não possam fazer parte de uma mesma rotina, apenas têm de ser utilizados em momentos diferentes. O meu conselho é que se utilize sempre a Vitamina C de manhã - sendo que não é aconselhável que nenhum dos outros seja. Quanto à rotina da noite, aconselho a que se alternem os AHA com o retinol (usar retinol num dia e AHA no outro). Atenção que se nunca usarem nenhum destes dois ingredientes, convém fazer uma introdução gradual de cada um deles, começando por utilizar de forma muito espaçada.

 

Ácido salicílico e AHA

Esta combinação apenas requer algum cuidado por forma a que não se exagere na utilização de ácidos. Tal como no caso do retinol com AHA, a ideia aqui é não agredir demasiado a pele. O ideal é, mais uma vez, usar à noite e alterná-los. Contudo, se utilizam produtos que contêm ambos, não se preocupem - eles estão formulados para resultar em conjunto e as concentrações estão ajustadas de forma a que não causem problemas. O que não convém é fazer misturas de produtos com estes ácidos que não tenham sido formulados para funcionar em conjunto. 

 

Vitamina C e Péptidos com Cobre

Esta questão surgiu por parte de um responsável de uma marca de dermocosmética que notou que juntando péptidos com cobre a Vitamina C, a Vitamina C tornava-se inactiva. Contudo, isto é informação obtida in vitro, o que significa que não foi testada na pele (ou in vivo) e não recria necessariamente aquilo que acontece na pele. Até hoje não há qualquer estudo que consiga encontrar que prove que realmente há uma inactivação da Vitamina C pelos péptidos com cobre. No caso de ainda assim terem medo de combinar ambos, usem os péptidos de cobre à noite e a Vitamina C de manhã.

O que pagamos num cosmético

Ando há algum tempo para escrever este post porque muitas vezes deparo-me com questões como "se é caro é porque é bom" ou "se é barato é porque não presta" ou "é tão caro, conheço um do LIDL que faz o mesmo e custa 2€" e outros semelhantes. E a realidade é que nada disto é necessariamente verdade.

 

O que influencia o preço dos cosméticos

 

Ingredientes - embora esta seja uma fatia normalmente pequena, o custo dos ingredientes influencia grandemente o preço final. Não só o ingrediente em si como as patentes, o processo pelo qual são obtidos ou se estão sujeitos a algum tipo de certificação.

Características organolépticas (textura, cor, cheiro) - uma vez li uma entrevista onde alguém dizia que cerca de 80% do desenvolvimento de fórmulas de marcas de luxo era passado na textura do produto. Considerando que muita gente compra os produtos porque gostam da sensação de aplicação na pele e é uma das partes mais complicadas da formulação, é um peso muito significativo de uma grande parte dos produtos disponíveis

Marca - há marcas pelas quais se paga pelo privilégio de as poder comprar, principalmente a nível de cosmética elevada e marcas associadas a grandes designers

Embalagem - o facto de se ter uma embalagem genérica ou ter uma embalagem mais premium influencia, não só a nível do material usado mas também do próprio design de embalagem. Embalagens mais bonitas são geralmente bem mais caras

Investigação/formulação - a formulação do produto também se paga e há uma grande diferença entre fazer uma cópia de um outro produto ou inovar realmente na fórmula.

Marketing e design -  o design dos produto e todas as campanhas: publicidade, descontos, embaixadores, patrocínios, ofertas de brindes e produtos.

Salários dos funcionários - pela mesma razão que mandar vir coisas da China é muito barato, comprar produtos em empresas que pagam mal aos funcionários também é mais barato. Pagar salários justos e ter o número de funcionários necessário às tarefas implica ter de subir consideravelmente os preços. 

Infra-estruturas -  todo o processo de produção implica um local onde fazer o produto

Intermediários - quantos mais intermediários, mais os custos aumentam

Lucro da empresa - ninguém faz uma empresa para ter prejuízo, portanto os preços têm sempre em conta a margem de lucro

Empresa individual ou parte de um grupo - quando as empresas fazem partes de grandes grupos muitas vezes o pessoal, infra-estruturas, equipa de desenvolvimento e investigação são partilhados, permitindo criar gamas com preços mais baixos que mantêm a qualidade. Isto torna-se mais difícil em empresas pequenas, sendo a principal razão pela qual empresas pequenas geralmente produzem marcas caras.

 

Olhando para alguns casos

 

The Ordinary - parte de um grupo que já tinha uma marca elevada e uma intermédia, a The Ordinary investiu nos ingredientes. As fórmulas são simples, as texturas pouco agradáveis, as embalagens simples e praticamente não apostam em marketing tirando algumas bloggers-chave. Isto resultou em produtos que são eficazes e extremamente baratos (5-15€), mas que não vão além do conceito de "uma função por produto". Vale a pena? Sim, desde que a experiência da aplicação não seja importante.

Chanel - uma marca de uma grande casa de moda, é uma daquelas que se considera uma mais valia na vida das pessoas, pagando-se grandemente pelo privilégio de se terem os produtos em casa. A eficácia é questionável, principalmente tendo em conta o preço e vive principalmente da textura e da fragrância (para que é que é necessário que um creme cheire a perfume é coisa que me ultrapassa e é inútil e propiciador de crises alérgicas). Vale a pena? Não, a menos que queiramos mesmo um produto da marca como item de decoração.

Sunday Riley - uma marca cara que vive dos ingredientes caros/certificados e das fórmulas eficazes, bem como aparentemente de uma política de pagamento decente aos funcionários. Vale a pena? Sim, se tivermos dinheiro para a pagar (90% das pessoas não tem).

Garnier - parte de um grande grupo, a Garnier aposta nas texturas e em ingredientes básicos, bem como no marketing. Vale a pena? Sim, se não houver dinheiro/vontade de investir em produtos mais interessantes em termos de qualidade/preço.

Vichy - parte de um grande grupo, aposta em alguns ingredientes interessantes e muito marketing. Vale a pena? Não (não tenho muito mais a dizer sobre isto).

ISDIN - aposta principalmente em investigação/inovação, ingredientes e fórmulas (e marketing a nível de visita médica), tendo-se especializado em áreas de patologias da pele e protecção solar. Vale a pena? Sim, embora alguns preços possam ser elevados.

La Roche-Posay - parte de um grande grupo, aposta em ingredientes, fórmulas eficazes e marketing. Vale a pena? Sim, desde que não se procure a experiência da cosmética elevada.

Cien - aposta em ingredientes básicos e preços baixos, o que se traduz numa relação qualidade/preço muito interessante (mas onde nem a qualidade nem o preço são elevados). Vale a pena? Não, a menos que o orçamento não permita algo melhor - continua a ser melhor do que nada.

Clarins - uma marca de cosmética elevada que aposta em ingredientes, fórmula e textura, mantendo um bom equilíbrio entre todos. Vale a pena? Sim, se se quiser uma marca eficaz mas também a experiência agradável da aplicação (e desde que se tenha dinheiro para isso).

 

(não foi acidentalmente que escolhi várias marcas do grupo L'Oréal, apenas para mostrar que "serem do mesmo grupo" e "serem produzidos nos mesmos locais e possivelmente pelas mesmas equipas" não diz nada a respeito das políticas internas e da qualidade do produto)

Review: La Roche-Posay Anthelios Bruma Anti-Brilhos SPF50

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Tipo de produto: spray para reforçar a protecção solar

Função: protector solar

Ingredientes principais: octocrileno, dimeticone

Quando usar: quando necessário

Embalagem: embalagem com spray

Quantidade: 75ml

Preço: 15€

Onde comprar: farmácias, Care to Beauty (não é link de afiliado, contudo podem usar o código de afiliado ANA5 para terem 5% de desconto na Care to Beauty)

 

A ideia não é nova, mas depois do desapontante desempenho da Eau de Soin da Bioderma em peles mistas ou oleosas, a grande maioria das pessoas estava com as esperanças depositadas neste novo produto da La Roche-Posay que promete ser um reforço de protecção solar desenhado com uma função anti-brilhos.

Por norma, se tenho um produto diferente nas mãos, gosto de o usar como uma pessoa normal: pegar nele e tentar fazer a coisa resultar. Eventualmente olho para a embalagem à procura de instruções específicas, sendo que esta embalagem só indica que se deve agitar bem o produto antes de usar. A primeira vez que tentei aplicar o produto, confesso que a coisa não correu muito bem - acabei por usar bem mais do que seria recomendável e não gostei do aspecto final. Entretanto uma leitora fofa indicou-me que este produto deveria ser usado em Z (mantendo os olhos e boca fechados) e segui essa indicação no dia seguinte, tendo melhorado exponencialmente os resultados.

Então o que é que posso dizer acerca do produto quando ele é bem usado? Que funciona e está aprovado para pele mista. Apesar de dizer "anti-brilhos" o produto não tem acção matificante, mas também não acrescenta qualquer oleosidade à pele (só isto já é um grande bónus), mas por outro lado as zonas mais secas do rosto também não ficaram a repuxar e mantiveram-se confortáveis. O facto de conter silicones faz com que a pele fique com aquela textura aveludada típica dos silicones - não sou fã, mas sei que não faço parte da maioria - e a embalagem é pequena e prática para transporte no dia a dia na carteira, tornando muito mais simples a reaplicação de protecção solar por cima da maquilhagem.

Quanto à protecção propriamente dita, não a testei em condições extremas, mas portou-se sempre muito bem e mantenho-me sem escaldões nem vermelhidões.